sábado, 24 de outubro de 2009

Os dois textos abaixo foram escritos por mim (Liana) durante o Atelier de Criação, como exercício de escrita livre a partir de atividades realizadas nas aulas. É interessante perceber as recorrências de questões que existem entre os dois, que foram feitos a partir de atividades diferentes.

O primeiro texto foi escrito em uma das aulas de Nuno Bizarro, no dia 15 de outubro. O exercício desse dia foi ficar deitado no chão, de olhos fechados, enquanto um parceiro repousava o corpo em cima do nosso. Ao longo dessa atividade, o interprete que repousava em cima do nosso corpo ia mudando de posições, ao seu tempo, propiciando a percepção das mudanças de peso por entre as partes do corpo a quem estava deitado.

O segundo texto é referente a um exercício do dia 23 de outubro, na aula guiada por Johann e João, em que todos os integrantes da aula tinham que se movimentar no espaço delimitado por um elástico. Experimentamos essa atividade pelas ruas do Recife Antigo, caminhando (ou correndo, ou dançando), todos juntos, ligados por esse elástico durante 45 minutos.

A ler o resultado dos dois textos é possível perceber questões recorrentes como tempo, espaço, unidade e fragmentação, mesmo tendo sido escritos a partir de atividades diferentes. Também é perceptível a semelhança do ritmo das frases, que repetitivamente se desdobram em vários substantivos ou qualidades. São muitas vírgulas e frases curtas. Me pergunto se existe uma conexão com o ritmo do meu próprio movimento, ou se é apenas um padrão de escrita. Confrontar esses padrões me instiga a uma reflexão mais delongada sobre essa questão. Existe conexão entre o padrão do movimento corporal e o padrão do pensamento da escrita?

Exercício de escrita automática realizado no dia 15 de outubro.

Paisagens do corpo, montanhas, relevos, pausas incansáveis. Extensões que se desdobram em respirações, suspiros, memórias de som e cheiro, e devaneio. Sempre movendo aquilo que há de mais íntimo e delicado, intenso em sua intenção. Palavras que surgem como imagens e se desdobram em tempos infinitos. Minha cabeça gira e devaneia para longe da terra, em direção ao ar, ao arco, ao barco, como em ondas que acalantam o corpo e as emoções. Sensações profundas de “inteireza” e de fragmentos de pele, de ossos, de unhas. Sensações aconchegantes de contato com o chão. Os ossos, a estrutura, confortavelmente colocados em espaços infindos. Respiro e minha mente ainda plana no espaço das horas, sem pressa.

Exercício de escrita automática realizado no dia 23 de outubro.

Volume. Volume dos corpos entre. Que entre é esse? Onde acaba e começa o nosso corpo, o nosso espaço e o outro? Fronteiras móveis, fluidas, mas tensas. Um jogo de negociação entre espaços, tempos e curvas. Olhar sempre ativo, em alerta. O macro é estendido. Nossas extremidades assumem extensões distantes, quase infinitas. As tensões delimitam nossas ações, nossas viradas, nossas decisões de se impor em relação aos outros e a si mesmo. Uma sensação de unidade desmembrada, em constante atividade, mas com suas pausas.


Por Liana Gesteira

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