terça-feira, 17 de novembro de 2009

Vocês me convidaram a ter coragem de apostar em alguma construção de sentido ou sentidos, contrapondo ao vazio que me abate, em tantos momentos. Tomada de um fatalismo e sentimento de insignificância como agente de transformação, em minha eterna e angustiante busca de sentidos.
Nos padrões biológicos e comportamentais, na psiquê, em Deus, no destino, na arte, nos elétrons, prótons, átomos, moléculas, nas células e gens, procurava encontrar a essência ou essências que determinam os seres, a vida e a mim mesma.
Neste momento, sem saber direito o que sou (se uma mesa ou uma mulher), prefiro pensar nas relações que estabeleço com o espaço e os seres ao meu redor, nas minhas decisões e escolhas e no que elas implicam, no meu existir.
Estas três semanas me ajudaram imensamente neste processo de emancipação e aquisição de autonomia, ao conseguir descrever um espetáculo, por exemplo, outrora tão difícil. Foram dias muito felizes, para mim os mais felizes, nestes últimos tempos. Me sinto viva, não gosto de exageros, mas não encontro palavras para descrever o quanto foi importante estarmos juntos simplesmente ou não simplesmente brincando.
Sentirei saudades de habitar esses lugares imaginários que juntos criamos.
E agora? A redoma se quebrou. Posso sentir o vento. Abro os olhos, há um horizonte imenso e uma minúscula formiguinha caminhando sobre o meu corpo, estou aqui. Vejo pegadas na areia, estou no mundo.

Juliana Japiassú
Oi João, tudo bom?

Agradeço a oportunidade de participar do Ateliê de Criação, experimentando, criando, renovando e com certeza formando raízes, como um fio que se inicia e não tem um certo "fim", desenvolvendo possibilidade do novo olhar, de um olhar atento.
Abordagens construtivas, estimulando as percepções, sensações, dimensões, volume, espaço. Um viés do real, imaginário, concreto, sentido, percebido, olhado.
Importante experiência que recarrega, renova e contribui para o desenvolver artístico. Grata por tudo, e espero poder participar de outras visões, de outros corpos e tempos.

bjo grande, tudo de bom,

Priscilla

Exercício de escrita automática realizado dia 23/10/2009

Desabafo..

Hoje me sinto feliz!
Me apropriando do que realmente quero e mesmo cansada, me sinto renovada, feliz, fazendo o que sempre quiz..
Alimentando o desejo, o sonho,o meu sentir, meu eu, novo de novo, como Paulinho, como Moska, que voa, sobrevoa..
Prefiro as borboletas, seres alados, a lembrança da magia, magia da arte, que embebeda, cria, move,como sonhos que se dissipam e não morrem, eternizam, como o cheiro, com o cheiro...
A vontade de falar, de dizer o que quero e sinto, desejo..simplesmente faço: danço!
Ou não tão simplesmente assim, embora tente, retente, existe?
Retorne a tentar, a pensar, o que sou, como me sinto e estou, a presença do sentir,
A arte da Presença!

Por Priscilla Figueiroa

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O começo é aqui!




E chegou ao fim a primeira edição do Articulações –Corps en Temps em Recife, projeto pioneiro nas artes contemporâneas, promovendo a interdisciplinaridade e o encontro entre mundos.

Assumindo como eixos fundamentais e inseparáveis a Experimentação, a Criação e a Apresentação, Articulações incluiu o espetáculo “A Vida Enorme/épisode 1” de Emmanuelle Huynh, 3 semanas de oficinas de Técnica Feldenkrais, Improvisação, Composição e Cenografia com os professores Nuno Bizarro, Johann Maheut e João Costa Lima, e para encerrar coube a filósofa Isabelle Launay levantar questões.

Em sua conferência “De que a Dança Contemporânea é Contemporânea?” na Aliança Francesa, Isabelle expôs reflexões sobre o corpo político, a formação e o lugar da dança hoje, e como a produção da dança contemporânea responde ou interroga os diversos fatores da vida atual. Em seguida teve lugar um debate caloroso, uma questão puxando outra, as palavras indagando gestos, através de relações.

Com presença ativa de público em todas as suas ações, Articulações conclui seu ciclo com entusiasmo, consciente de que o lugar da Arte Contemporânea é dinâmico, crítico, plural, perto das pessoas, possibilitando o conhecer e o reconhecer do mundo através de experiências compartilhadas.

fotos de Val Lima

sábado, 31 de outubro de 2009

Dança com o viés político


Caderno Viver, Diário de Pernambuco.
Por Tatiana Meira - Diário de Pernambuco (31/10/2009)

"Um projeto inédito no Recife termina hoje, com conferência de Isabelle Launay, professora e co-diretora do Departamento de Dança da Universidade de Paris 8, na Aliança Francesa, no Derby, às 17h. Articulações - Corps en Temps representa novidade por ter proporcionado três semanas de experimentação continuada numa oficina para um grupo de 15 criadores em dança, com técnicas nunca antes ensinadas na cidade, como o método Feldenkrais. E por ter possibilitado a apresentação no Teatro Hermilo Borba Filho do espetáculo A vida enorme - Episóde 1, de Emmanuelle Huynh, trabalho desenvolvido no Centro Nacional de Dança Contemporânea de Angers, na França, um dos pontos de vanguarda na formação e criação em dança na Europa.

A visão de fronteiras ampliadas ou borradas entre as artes integra a filosofia do Centro de Angers, onde o coordenador do Articulações, o pernambucano João Costa Lima, estudou por um ano, dos cinco em que vive na Europa. "Queria trazer esta experiência para cá, encarando a performance da dança a questões estéticas e políticas, levando em conta os pilares da experimentação, criação e formação", aponta João Lima, que ministrou o módulo de Observatório cenográfico, ao lado do artista plástico e cenógrafo francês Johann Maheut.

Elementos como espaço e sensorialidade e as relações entre o bailarino e ele mesmo, o outro e os outros foram alguns dos pontos explorados durante a oficina, que ocorreu no Espaço da Compassos, no Bairro do Recife e deixa como uma de suas sementes um blog, que continuará ativo ao término do curso (www.articulacoesblog.blogspot.com). "Fizemos exercícios simples, como o de composição com objetos como mesa, cadeira e lâmpada. Quando o bailarino se coloca numa posição específica, isto estabelece uma relação com o público e o imaginário que pode surgir a partir daí", descreve Johann Maheut.

Para Liana Gesteira, uma das bailarinas participantes da oficina e integrante da Cia. Etc., o mais pertinente nas três semanas de trabalho é poderarticular pensamentos por perspectivas diferentes, trabalhando a composição da cena na dramaturgia, algo que falta aos profissionais do Recife, por não estarem acostumados a desenvolver esta criatividade", opina. Juliana Japiassú defende que o Articulações foi importante para aguçar o olhar dos participantes, que passaram a contar com outras noções de espaço, antes mais ligadas à filosofia de Laban. "São outros códigos e linguagens, como os micromovimentos de Feldenkrais (na primeira etapa da oficina ministrada por Nuno Bizarro), que nos provocam a vencer preconceitos e buscar outras formas do fazer artístico", acredita Juliana, cuja mãe, a coreógrafa e professora Mônica Japiassú é uma das raras profissionas no Recife a ter feito formação em Feldenkrais (e que compareceu a dois dias de aulas). André Aguiar, do grupo Experimental, afirmou se sentir respeitado pelo trabalho, que valoriza a postura ativa dos artistas envolvidos e enfatiza as sensações, provocando os corpos a fugirem da mecanização dos movimentoscotidianos.

Incluído na programação do Ano da França no Brasil, o Articulações finaliza com o depoimento de Isabelle Launay em português - ela morou 15 anos no Brasil. João Costa Lima pontua que a conferência será feita em linguagem clara e direta, interessante até mesmo para quem deseja se iniciar nos questionamentos da dança contemporânea. "Isabelle é filósofa de estética e possui uma visão alargada da prática artística. Ela articula a vida cotidiana contemporânea com relações sociais, econômicas, antropológicas, evidenciando os fatores políticos da dança", destaca João Lima, que não descarta o desejo de voltar à cidade para compartilhar novos projetos."

> De que a dança contemporânea é contemporânea?

E depois de 3 semanas intensas de experimentações e apresentação de espetáculo, Articulações - Corps en Temps encerra hoje, com a conferência de Isabelle Launay "De que a dança contemporânea é contemporânea?", propondo questões sobre a contemporâneidade, contextualizando a prática artística no cerne da vida cotidiana, através de um olhar político, sociológico, econômico, cultural antes de tudo. Nada melhor para um encerramento do que reflexões que provoquem continuidade, desafiando a idéia de conclusão, continuamos em Articulações.

"É certo que vivemos hoje em dia em 2009, somos nós, no entanto, contemporâneos das mesmas coisas? Se olharmos mais de perto, apesar da circulação globalizada dos gestos em dança, nós não somos todos contemporâneos das mesmas realidades.

Nós evocaremos como, no contexto francês, o campo coreográfico organiza a sua contemporaneidade econômica, pedagógica, estética. De início, como ele se adapta, não sem dificuldades e resistências, a uma política cultural liberal (a economia dos projetos coreográficos seria contemporânea às lógicas de mercado?);

Em seguida, como ele se esforça para construir uma convergência entre lógicas de criações contemporâneas e lógicas de formações em dança (a escola de dança é contemporânea aos projetos de criação? E como ela reinventa seus clássicos?). Enfim, como a presença do dançarino em cena é testemunha dos conflitos, das relações de força, impasses e prazeres do nosso hoje em dia? Que gestos ela privilegia e que gestos ela exclui?

Estas são algumas hipóteses a partilhar, seguidas de um debate com os participantes."


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Isabelle Launay, professora doutora e co-diretora do departamento
de dança da Universidade de Paris 8 Saint Denis (França). Autora dos livros "À La Recherche d’une Danse Moderne", "Entretenir: a Propos D'une Danse Contemporaine" co-escrito com Boris Charmatz e "Danse
et utopie", entre diversos outros artigos publicados em revistas especializadas.


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Conferência em português.

Local: Aliança Francesa, Rua Amaro Bezerra 466 Derby.
Horário: 17h


*Ação desenvolvida em parceria com o 14º Festival Internacional de Dança do Recife.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Será que podemos nos relacionar sem tensão?

Sobre a intervenção realizada na última sexta-feira 23/10, no Bairro do Recife Antigo:

Com um elástico tentamos materializar as tensões e relações entre as pessoas. Procurar espaços de liberdade para cada um, em contradição, ou não, deixando emergir a vontade de um grupo. Ir à rua, sair do estúdio e explorar um outro ambiente, propondo um encontro entre a nossa mini-comunidade e a realidade recifense.

Fotos de Daniela Azevedo







Refletindo sobre o processo de desenvolvimento da primeira semana do workshop, nós imaginamos que seria interessante trabalhar cotidianamente sobre o olhar de uma terceira pessoa, um olhar exterior, que nos re-enviaria uma imagem daquilo que está em jogo a cada sessão.

A cada dia, um observador voluntário teria que pensar o modo de relação que ele desejaria ter com o grupo. O processo de trabalho incluía ao fim da sessão o “feedback” ou “playback” da totalidade daquilo que foi observado.

Neste laboratório, várias questões nos guiaram, tais como “o que é a presença em cena, e onde se situa o espetáculo?”, “inscrever um corpo em uma paisagem está na base da dança, como ele se inscreve?” e ainda “pode ser que a espacialidade seja a projeção da extensão do aparelho psíquico...”

Através de uma prática cotidiana, nós buscamos encarnar estas questões.
Em seguida de um exercício onde todos juntos deveríamos, em silêncio, fabricar um espaço, uma “cenografia” para acolher o “feedback” do dia, nós pensamos que seria importante introduzir o trabalho de Yvonne Rainer sobre o gesto cotidiano, sua relação à “produção de imagens de formas vivas”, isto levantou a questão da democracia na representação improvisada.

Nós devemos adicionar que uma das questões principais que nós ativamos neste workshop é a questão da relação, da relação a si, ao Outro, e aos outros, atentos a idéia de afinação. Segue um trecho de “The Mind is a Muscle” de Catherine Wood sobre o trabalho de Yvonne Rainer:

“A questão da democracia é geralmente figurada no seu trabalho em dois níveis: um, em termos de uma noção fielmente literal de como o trabalho envolve a participação de grupo, criando quadros de relações igualitárias entre corpos performando tarefas que desafiam qualquer forma de organização hierárquica; e em outro em que o objeto de arte está posicionado como um contingente ponto de negociação, em vez de uma entidade transcendente ou fixa.“


Texto publicado por After All na série One Work, com tradução (não oficial) de João Costa Lima

Johann Maheut

terça-feira, 27 de outubro de 2009


Aqui segue a citação do Jacques Rancière que lemos em estúdio ontem:

“A emancipação começa quando recolocamos em questão a oposição entre olhar e agir, quando compreendemos que as evidências que estruturam assim as relações do dizer, do ver e do fazer pertencem elas mesmas à estrutura de dominação e de sujeição. Ela começa quando compreendemos que olhar também é uma ação que confirma ou transforma esta distribuição de posições. O espectador também age, como aluno ou sábio. Ele observa, seleciona, compara, interpreta. Ele liga o que ele vê a muitas outras coisas vistas em outras cenas, em outros tipos de lugar. Ele compõe seu próprio poema com os elementos do poema que está a sua frente (...)”

Trecho de “O Espectador Emancipado” (2008), em tradução minha.

Jacques Rancière é um filósofo contemporâneo francês, autor de “O Mestre Ignorante” e “A Partilha do Sensível”, entre outros.

João Costa Lima

domingo, 25 de outubro de 2009

E dos seus anjos— 15 de outubro

Paisagens do corpo, montanhas, relevos, pausas incansáveis. Extensões que se desdobram em respirações, suspiros, memórias de som e cheiro, e devaneio. Sempre movendo aquilo que há de mais íntimo e delicado, intenso em sua intenção. Palavras que surgem como imagens e se desdobram em tempos infinitos. Minha cabeça gira e devaneia para longe da terra, em direcção ao ar, ao arco, ao barco, como em ondas que acalantam o corpo e as emoções. Sensações profundas de “inteireza” e de fragmentos de pele, de ossos, de unhas. Sensações aconchegantes de contato com o chão. Os ossos, a estrutura, confortavelmente colocados em espaços infindos. Respiro e minha mente ainda plana no espaço das horas, sem pressa. Meter-se em pousio.
Através de fartos bigodes crescidos durante a sesta vejo uma aldeia lacustre onde dezenas de pessoas sentadas em cadeiras de plástico amarelas à volta de mesas de plástico amarelas esvaziam skols em alegre algazarra, cabeças e barrigas à tona da água. Mais próximo das vagas, discretos como jacarés esperando a presa, dois filósofos traçam o futuro próximo. Tudo vai com o meu adidas amarelo, homenagem à indústria brasileira e ao yellow speedo of my cousin Michel.

Ver o mundo através de um farto bigode emprestado a Nietzsche, acção: um tubo de cola, um fio e uma mecha de cabelo cortada ao parceiro e lançar-se num futebol filosófico acalantando e abusando sem freio as nossas figuras de estilo, deboche de best of até que o descaramento nos desembarace para vir assim ligeiros roubar no prato do vizinho. Servir-se.

Marcar o espaço assimetricamente, excluindo uns. Abolir a perspectiva. Cerrar os espectadores-alunos à volta dos dançarinos-alunos e deixar que cada um não se dirija que a cada um. A direcção é incerta. Dançar sob o nariz de todos, torcer-lhe os olhos. Que um observador designado tire uma carta, anjo ou demónio, dando depois azo à sua costela diabólica ou angélica, criticando, louvando ou cuspindo, uma sessão de trabalho. Renovar a tradição do bufão.

O desenvolvimento de uma coisa, de um costume, de um órgão, não é uma progressão para um fim e menos uma progressão lógica e directa realizada com o mínimo de forças e de despesas— é antes uma sucessão constante de fenómenos mais ou menos independentes e violentos, de coisas subjugadas por outras coisas, sem esquecer as resistências e as metamorfoses que entram em jogo para a defesa e para a reacção e também os resultados felizes das acções contrárias do bom êxito. Nem o martelo de um nem os 4 contra-sensos a evitar de outro me armam para continuar esta citação sem aspas. Os escolhos vejo-os bem e os tubarões rondam. Citemos por outras paragens: nesse caso tentar com uma pequena chaves-de-fendas se assim não funcionar tentar com as chaves se assim não funcionar com uma caneta se assim não funcionar tentar com a pequena chaves de fendas e as chaves ao mesmo tempo depois com a pequena chaves de fendas as chave e uma caneta ao mesmo tempo se isso não for suficiente utilizar os dedos.
Na idade em que um grande número vai renegando experiências e leituras, aproveitando do interregno do voo Lisboa-Recife, mergulho com o entusiasmo de um leitor de livros de auto-ajuda na leitura de Nietzsche. Para evitar ortodoxia anacrónica precavejo-me com a mediação de Deleuze e dos seus 4 contra-sensos a evitar: 1. sobre a vontade de potência 2. sobre os fortes e os fracos 3. Sobre o eterno Retorno 4. sobre as últimas obras. E assim caço dois coelhos com uma só martelada.
Quando o corpo dança a vida...
Quando o corpo dança há vida
Quando o corpo dança a vida dança
Quando o corpo dança a vida a vida dança

Paula Fonsêca

sábado, 24 de outubro de 2009

Os dois textos abaixo foram escritos por mim (Liana) durante o Atelier de Criação, como exercício de escrita livre a partir de atividades realizadas nas aulas. É interessante perceber as recorrências de questões que existem entre os dois, que foram feitos a partir de atividades diferentes.

O primeiro texto foi escrito em uma das aulas de Nuno Bizarro, no dia 15 de outubro. O exercício desse dia foi ficar deitado no chão, de olhos fechados, enquanto um parceiro repousava o corpo em cima do nosso. Ao longo dessa atividade, o interprete que repousava em cima do nosso corpo ia mudando de posições, ao seu tempo, propiciando a percepção das mudanças de peso por entre as partes do corpo a quem estava deitado.

O segundo texto é referente a um exercício do dia 23 de outubro, na aula guiada por Johann e João, em que todos os integrantes da aula tinham que se movimentar no espaço delimitado por um elástico. Experimentamos essa atividade pelas ruas do Recife Antigo, caminhando (ou correndo, ou dançando), todos juntos, ligados por esse elástico durante 45 minutos.

A ler o resultado dos dois textos é possível perceber questões recorrentes como tempo, espaço, unidade e fragmentação, mesmo tendo sido escritos a partir de atividades diferentes. Também é perceptível a semelhança do ritmo das frases, que repetitivamente se desdobram em vários substantivos ou qualidades. São muitas vírgulas e frases curtas. Me pergunto se existe uma conexão com o ritmo do meu próprio movimento, ou se é apenas um padrão de escrita. Confrontar esses padrões me instiga a uma reflexão mais delongada sobre essa questão. Existe conexão entre o padrão do movimento corporal e o padrão do pensamento da escrita?

Exercício de escrita automática realizado no dia 15 de outubro.

Paisagens do corpo, montanhas, relevos, pausas incansáveis. Extensões que se desdobram em respirações, suspiros, memórias de som e cheiro, e devaneio. Sempre movendo aquilo que há de mais íntimo e delicado, intenso em sua intenção. Palavras que surgem como imagens e se desdobram em tempos infinitos. Minha cabeça gira e devaneia para longe da terra, em direção ao ar, ao arco, ao barco, como em ondas que acalantam o corpo e as emoções. Sensações profundas de “inteireza” e de fragmentos de pele, de ossos, de unhas. Sensações aconchegantes de contato com o chão. Os ossos, a estrutura, confortavelmente colocados em espaços infindos. Respiro e minha mente ainda plana no espaço das horas, sem pressa.

Exercício de escrita automática realizado no dia 23 de outubro.

Volume. Volume dos corpos entre. Que entre é esse? Onde acaba e começa o nosso corpo, o nosso espaço e o outro? Fronteiras móveis, fluidas, mas tensas. Um jogo de negociação entre espaços, tempos e curvas. Olhar sempre ativo, em alerta. O macro é estendido. Nossas extremidades assumem extensões distantes, quase infinitas. As tensões delimitam nossas ações, nossas viradas, nossas decisões de se impor em relação aos outros e a si mesmo. Uma sensação de unidade desmembrada, em constante atividade, mas com suas pausas.


Por Liana Gesteira

Imagens do Atelier de Criação, durante oficina de Feldenkrais e Improvisação, orientada por Nuno Bizarro.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pauvre Johann




Desenhos de Kelly Lima
E o Atelier de Criação segue de vento em popa,se desdobrando em espaços até chegar aqui, neste lugar virtual onde pretendemos extender nossas reflexões. Este blog hoje apresenta um texto de Kelly Lima, participante do Atelier, em breve seguirão mais observações desde diferentes pontos de vista.

Inscrever | v. tr. | v. pron.

inscrever (ê) - Conjugar
v. tr.
1. Escrever (gravando ou esculpindo).
2. Arrolar; incluir no número.
3. Registrar.
4. Geom. Traçar (uma figura) dentro de (outra figura).
v. pron.
5. Incluir ou fazer incluir o nome em rol ou lista.


escrever | v. tr. | v. intr. | v. pron.

escrever (ê) - Conjugar
v. tr.
1. Pôr ou dizer por escrito.
2. Encher de letras.
3. Compor, redigir.
4. Ortografar.
5. Fig. Fixar, gravar.
v. intr.
6. Representar o pensamento por meio de caracteres!
7. Dirigir-se por escrito a alguém.
8. Formar letras.
9. Ser escritor.
v. pron.
10. Corresponder-se, cartear-se.


DANÇA - inscrever o corpo no espaço

FOTOGRAFIA - escrever com a luz

escrever e inscrever mantém uma relação de conotação. Para o dicionário, elas são a mesma coisa, apesar de que inscrever denota mais ao escrever dentro, de estar contido.

sendo bem simplista (afinal, pra que complicar?), quanto mais eu observo linguagens, expressões diferentes, mais elas me parecem ser a mesma coisa, eu acabo achando mais pontos em comum do que diferenças, como se uma contivesse a outra, reciprocamente.

Por vir da área do design (gráfico, vídeo) o que eu procuro observar especificamente no ambiente da oficina são as diferenças entre o bidimensional e o tridimensional. Afinal, a leitura do observador-espectador se dá através do olhar
(a relação do dançarino com a dança [é corporal, mas a do espectador com a dança [é visual)

falando um pouco sobre os exercícios que trabalham o
olhar para si
olhar para o outro
olhar para os outros e para o espaço

ao olhar para mim, me faz sentir como um dançarino, (dança)
ao olhar para o outro, eu vejo uma escultura
ao olhar para os outros e o espaço, com uma visão panorâmica, eu penso no cinema

apesar do palco ser um ambiente tridimensional e quem está em cena estabelecer uma relação espacial dentro dele, o espectador tem uma visão de quadro, onde os objetos se movem dentro dele, a noção de profundidade se dá através das linhas perpendiculares, como num desenho, e a forma, o volume [e percebido pelo olho através de um jogo de luz (a luz que incide sobre o objeto).

quando o espectador se move dentro da cena, altera completamente as noções e leitura do espetáculo, ele passa a trabalhar e ter outros tipos de experiências. Quando ele toca o objeto, ele pode sentir o volume, quando ele se move dentro da cena, ele experimenta as três dimensões do espaço.

Eu posso dizer que perceber isso amplia as potencialidades do espetáculo ao cubo !!! Eis aí um terreno fértil de possibilidades a se trabalhar. Eleva a minha instigação ao cubo !!!

Vamos todos nos jogar.

Kelly Lima

sábado, 17 de outubro de 2009

Estreou!


Nesta terça feira “A Vida Enorme/épisode 1” estreou no Recife, inaugurando o projeto Articulações com o pé direito e o esquerdo, as mãos, a coluna, os olhos, a imaginação e tudo que nos compõe.

Com o Teatro Hermilo Borba Filho lotado, o público acompanhou a peça com a atenção profunda, testemunhando um acontecimento tão simples quanto direto. Ali, a platéia foi convidada a compor narrativas, nesta peça ousada eram os espectadores que liam e escreviam suas histórias.

Alguns comentários sobre a obra incluíam o inusitado de se ver dança sem música, outros ressaltaram o erotismo e a sensualidade do encontro entre os corpos. Também houve quem se incomodasse com os textos em francês, assim como outros revelaram interesse pelo som e pela palavra muito além da significação direta dos textos. Certas pessoas comentaram que a estruturação e isolamento dos elementos cênicos oferecia uma materialidade bastante viva, carnal, ou seja, o som, as palavras, a luz, o espaço, passando pelos corpos, assumiam presenças com contornos bem definidos.

Nesta peça, as opiniões foram variadas, sempre a partir de uma forte relação entre palco e platéia. Aqui, a partilha se fez realidade.

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Jornal do Commercio - Caderno C
Publicado em 13.10.2009

» DANÇA

Articulações valoriza arte performática

Experiências de artes perfomáticas, realizadas tanto em Pernambuco quanto na França, se encontram durante o mês de outubro com a realização do projeto Articulações – Corps en Temps. O objetivo do evento, que está incluído na programação do Ano da França no Brasil, é promover um fórum de intercâmbio e formação em artes cênicas no Recife. A programação começa hoje, com o espetáculo A vida enorme/Épisode 1, e continua durante o mês com oficinas e uma conferência com a professora Isabelle Launay (FRA).
O dueto A vida enorme/Épisode 1, de Emmanuelle Huynh, com Catherine Legrand e Nuno Bizzaro, será apresentado às 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife). O espetáculo foi idealizado como um filme, no qual a trilha sonora e a imagem são apresentadas uma após a outra. Na primeira parte, que corresponde à trilha sonora, um homem e uma mulher dialogam através de poemas do português Herberto Lerder. No segundo trecho, o casal inscreve sua presença sobre o palco em percurso autônomos. A apresentação também faz parte da programação antecipada do 14º Festival Internacional de Dança do Recife. Ingresso a R$ 5.

“A vida enorme é um espetáculo bem sofisticado, que utiliza elementos da performance, som, luz e os corpos no espaço de uma maneira bastante direta. É uma instalação em movimento, nas palavras da criadora”, afirma o idealizador e coordenador do Articulações, João Costa Lima.

A concepção do evento pode ser relacionada à formação que Costa Lima experimentou na Europa, após diversas atividades em teatro e dança no Recife. Em 2006, ele integrou o Curso de Pesquisa e Criação Coreográfica do Forum Dança, em Lisboa, e em 2008 conclui a Formação Essais, no Centre National de Danse Contemporaine d’Angers (na França). “Tive formação bastante interdisciplinar, com dança, teatro e performance. Desde então venho pensando em trazer isso ao Recife”, diz Costa Lima, que reside em Barcelona e desenvolve um projeto de pesquisa coreográfica aprovado pelo Rumos Itaú Cultural Dança 2009.

Tenho interesse em trabalhar com um grupo heterogêneo dentro do estúdio e também de proporcionar à cidade, não só ao público especializado, um momento de reflexão e deleite estético”, diz o pesquisador. O estúdio a que ele se refere está relacionado a outra atividade do Articulações: o Atelier de Criação, uma formação intensiva e gratuita para dançarinos e atores e demais interessados nas artes performáticas.

Serão três oficinas, que acontecem no Compassos Estúdio de Danças. Uma delas é a Aproximação ao Método Feldenkrais e Improvisação, com o intérprete e coreógrafo português Nuno Bizarro. O artista plástico e cenógrafo, além de intérprete nas próprias performances, Johann Maheut ministra a oficina Observatório cenográfico. A terceira é Composição em movimento, na qual João Costa Lima trabalhará o movimento a partir dos sentidos fundamentais de percepção do corpo.

No próximo dia 31, o Articulações promove uma conferência com Isabelle Launay, que é co-diretora do Departamento de Dança da Universidade de Paris 8 Saint Denis (França).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Começou o Atelier de Criação!

Nesta quarta-feira iniciamos uma fase de experimentação, criação e transmissão de estratégias e pontos de vista artísticos. Com um grupo variado de artistas, alguns mais jovens outros mais experientes, todos com trajetórias singulares e diferentes percursos na dança, seja em dança contemporânea, frevo, hip hop, teatro, pilates, psicologia, performance art e etc.

Com a orientação do professor Nuno Bizarro, o Atelier de Criação iniciou com a oficina de Feldenkrais e improvisação. Um primeiro momento de encontro, conhecendo o outro através de si e do espaço, se conhecendo através do toque, da pele, dos ossos, das articulações, do peso e do movimento. Uma abertura ao outro e à outras formas de agir.

O lugar onde trabalhamos, o estúdio da Cia Compassos, no centro do Recife, tem as janelas bem abertas, por onde atravessam os sons da cidade, contextualizando a nossa prática no presente da realidade recifense.

E seguimos investigando possibilidades, escrevendo com o corpo e com palavras, oferecendo danças privadas, arriscando composições que "não precisam parecer a coisa alguma".

Este processo está apenas começando, hoje tem mais!

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OFICINAS >> 13 a 31 de outubro / segunda à sexta das 14h às 18h

> APROXIMAÇÃO AO MÉTODO FELDENKRAIS E IMPROVISAÇÃO

O Método Feldenkrais situa-se entre a prática artística e a pesquisa científica. Trata-se da transmissão do sistema desenvolvido pelo físico Moshé Feldenkrais na primeira metade do século XX,na França. Baseado em uma compreensão das leis da física e de suas influências no corpo, o método aborda funções humanas básicas (caminhar, sentar, deitar, levantar) e seu objetivo é desenvolver a capacidade cognitiva dos participantes para mover se com o mínimo de esforço e máximo de eficácia. As sessões de improvisação se desenvolvem a partir de uma grande escuta do corpo e espaço e oferecem ferramentas para leituras da dança e para a composição coreográfica.

Nuno Bizarro, intérprete e coreógrafo. Nos anos 90 fundou a associação cultural Re.al e Lab. em Lisboa um lugar de apresentação de criações pluridisciplinares.Trabalha com diversos coreógrafos em vários países. Atualmente ensina e estuda o método Feldenkrais, em Paris.

> OBSERVATÓRIO CENOGRÁFICO

Durante este período de trabalho abordaremos diversas questões relacionadas ao espaço, utilizando o corpo, mas também outros meios (objetos, materiais, etc.) para construir cenografias simples,pensando o corpo como primeiro palco, que se desdobra no espaço,
desenhando uma infinidade de pontos de vista. Como o espaço age sobre mim e como posso eu agir sobre o espaço? O que é um enquadramento, fotográfico, cultural, oficial, político...? Sabemos que menos é menos, e que não precisamos de mais.

Johann Maheut é artista plástico, intérprete em suas próprias performances e colabora, nas artes cênicas, como cenógrafo ou assistente artístico. Ele cultiva um olhar singular sobre o mundo e procura oferecer este lugar particular aos espectadores em seu trabalho. Ele revira as situações e põe em abismo os espaços, visando revelar poeticamente e simplesmente o real.

> COMPOSIÇÃO EM MOVIMENTO

Esta pesquisa se concentrará nas bases físicas da imaginação. A partir dos sentidos fundamentais de percepção do corpo, exploraremos o movimento. Trabalharemos o peso, a direção e a relação tempo/espaço. Entre gestos e ações, nos deixaremos levar e observaremos nossa atenção. Atentos a diversos modos de composição, questionaremos a criação cênica. Através da construção de identidades, de percepções do mundo e de representações da realidade e da ficção, entraremos na coreografia. Cada gesto implicará outro, e assim não perderemos de vista as nossas decisões.

João Costa Lima iniciou sua formação em Recife e veio desenvolver no Centre National de Danse Contemporaine d´Angers, França. Atua em peças de teatro e dança em criações suas e em colaboração com outros artistas. Em seu trabalho procura refletir sobre as ações em situação de representação, através de um viés poético e político.

O Atelier de Criação é uma formação intensiva destinada a dançarinos, atores, estudantes ou profissionais, e demais interesados na exploração do corpo e das artes performativas.

sábado, 10 de outubro de 2009

"A Vida Enorme/épisode 1"




Iniciando nesta próxima terça feira dia 13/10, é com prazer que o projeto Articulações - Corps en Temps convida a todos a assistir ao espetáculo "A Vida Enorme/épisode 1" de Emmanuelle Huynh, com Nuno Bizarro e Catherine Legrand.

”A Vida Enorme/épisode 1” arrisca uma construção dispersa, utilizando ferramentas cinematográficas postas na cena do espetáculo vivo sem que se trate propriamente da imagem (projetada) sobre o palco, uma narrativa onde os corpos celebram a carne do mundo e sua opacidade.

Peça aclamada pela crítica e público francês, em única apresentação no Recife.


*espetáculo apresentado em parceria com o 14º Festival Internacional de Dança do Recife.

Serviço:
Dia 13/10 às 21h no Teatro Hermilo Borba Filho
Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife
Duração: aproximadamente 60 minutos
Entrada: R$ 5

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O PROJETO

ARTICULAÇÕES – CORPS EN TEMPS é a realização de um fórum de intercâmbio e formação em artes cênicas no Recife, incluído na programação do Ano da França no Brasil.

A acontecer durante o mês de outubro de 2009, este evento incluirá oficinas de dança, composição, improvisação, teorias do corpo e cenografia, assim como a apresentação pública de uma conferência e um espetáculo.

Articulações propõe relações sociais pelo viés da arte. Surge do desejo e necessidade em conectar o corpo no tempo através do espaço, em plural, integrando pessoas, apesar das distâncias geográficas, econômicas e culturais.

Trata-se de um encontro de mundos, situando em Recife uma experiência de criação e investigação nas artes performativas atuais, na medida em que se envolve com artistas representativos da nova dança francesa.

Um processo de intercâmbio, que aqui apenas se inicia, desejando se multiplicar e vir a gerar novas formas de agir.


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Concepção e Coordenação geral: João Costa Lima
Produção Executiva: João Costa Lima e Daniela Azevedo
Consultoria Administrativa: Alice Coutinho
Assistência de Produção: Natália Brown
Design Gráfico: Amélia Paes

Agradecimentos: Oswaldo Lima Neto, Clara Simas, Núria Bernaus Miquel, Maria Edite Costa Lima, Fernando Bandeira, Eric Lahille, João Paulo Filho e Claire Laribe.

ARTICULAÇÕES – CORPS EN TEMPS teve o patrocínio da METROPOLITANA - Transportes Urbanos através da Lei Rouanet e contou com o apoio das seguintes empresas: URBANA-PE, SESC PERNAMBUCO, ALIANÇA FRANCESA, 14º FESTIVAL INTERNACIONAL DE DANÇA DO RECIFE, TELETAXI, RESTAURANTE CAPITAO LIMA, RESTAURANTE CASA DA MOEDA e CULTUREFRANCE.